Este texto resume os pontos mais importantes do Capítulo 3 do livro “The Great Conversation: The Substance of a Liberal Education“, de Robert M. Hutchins, publicado como Volume 1 da coleção Great Books of the Western World, pela Enciclopédia Britânica, em 1952:
Neste Capítulo 3, páginas 17 a 23, Hutchins continua a discorrer sobre o declínio da educação liberal no ocidente a partir da modernidade e início do século XX, e nos apresenta então três outras causas possíveis adicionais às já discutidas no Capítulo 2: a) a idéia de que a educação liberal não é a melhor educação para todos pois nem todos teriam a capacidade de compreendê-la; b) a idéia de que barreiras econômicas seriam impeditivas para a educação liberal; e c) o desperdício de tempo e frivolidade da educação atual.
Se, no Capítulo 2, Hutchins enfatizou o papel da mudança de visão sobre a educação no declínio da educação liberal, aqui ele disseca a questão econômica, a questão da capacidade individual do homem de se educar, e a questão do desperdício do tempo educacional nas escolas atuais.
[NOTA PESSOAL]: nada do que se segue é um pensamento original meu mas, sim, de Robert M. Hutchins. Eu reescrevi ou simplesmente transcrevi vários trechos de seu livro, procurando organizar e resumir o que eu entendi e aprendi, em poucos parágrafos e de modo mais objetivo. Acrescentei algumas explicações e figuras, quando julguei necessário, para melhorar a exposição do conteúdo. Sugiro a leitura do original caso o resumo abaixo lhe interesse. Também me permiti um deslize acadêmico: como as idéias abaixo não são minhas, são de Hutchins, eu deveria citá-lo várias vezes nos parágrafos abaixo. Mas isso tornaria o texto absolutamente repetitivo e enfadonho: “segundo Hutchins”, “de acordo com Hutchins”, “Hutchins acredita que”… Para evitar essa repetição, fica aqui, desde já, avisado que apesar de não referenciar Hutchins abaixo, o texto, o pensamento e o que eu aprendi, a seguir, é de Hutchins. Obviamente, qualquer falha no entendimento e reprodução dos ensinamentos do livro, é, obviamente, de minha inteira responsabilidade, não do autor original.
1. A Educação Liberal é para Todos?
Apesar de alguns educadores sustentarem a visão de que a Educação Liberal está ultrapassada (conforme discutido no Capítulo 2), muitos outros acreditam que a Educação Liberal através das Artes Liberais e dos Great Books continua sendo a melhor educação que se pode almejar, mas que essa educação só estaria ao alcance de poucas pessoas.
O pressuposto aqui é que a educação liberal é a melhor para poucos mas não é a melhor para muitos, já que muitos não teriam a capacidade de alcançá-la.
Estamos portanto diante do seguinte desafio: Qualquer um pode alcançar a educação liberal? Dito de outro modo: a educação liberal é adequada para as massas?
Ninguém sabe a resposta para essa questão pois nunca houve um tempo na história da humanidade no qual todos puderam ter uma chance de obter uma educação liberal.
Entretanto, se considerarmos que o lazer e a atividade política são razões para a educação liberal, então, ultimamente, todos em uma democracia industrializada terão razões para obter esse tipo de educação. Mais do que razões, todos teriam a obrigação de buscar a educação liberal.
Se as pessoas não fossem capazes de obter essa educação, deveriam ser privadas de poder político e, possivelmente, de lazer. Isso porque poder político não educado é perigoso, e porque lazer não educado é degradante e também será perigoso. Se as pessoas não forem capazes de alcançar a educação demandada para a cidadania democrática responsável, a própria democracia estará condenada e Aristóteles se provará correto ao afirmar que a massa da humanidade está condenada à escravidão natural.
Conclui-se então que todos devem ter a chance de obter essa educação liberal, cada homem deve ter a chance de ser educado de forma a poder desenvolver sua capacidade humana até o máximo possível.
Portanto a educação liberal universal é um ideal ao qual a sociedade deve almejar. A política educacional de um país dependerá da claridade e do entusiasmo com o qual esse ideal educacional é declarado, acreditado e tomado como verdadeiro.
Um outro problema surge então: mesmo que a sociedade tome a educação liberal para todos como um ideal a ser alcançado, haverá condições econômicas para isso?
2. Economia e Educação Liberal
A pobreza de um país realmente pode impedi-lo de se aproximar com rapidez de um ideal de educação liberal para todos. Isso não é mais um problema nos países desenvolvidos mas pode ainda ser um problema em alguns países subdesenvolvidos muito atrasados economicamente.
Na situação de pobreza econômica, onde o homem está faminto, é necessário primeiro acabar com a escravidão econômica e com a vida sub-humana “antes” de se buscar o ideal de educação liberal para todos.
Qualquer que seja o caso, a independência econômica não deve ser considerada um fim em si mesma: ela deve ser considerada um meio, mesmo que absolutamente necessário, para se levar uma vida humana. Portanto, ninguém pode questionar a pertinência de educação profissional e técnica em países subdesenvolvidos.
Entretanto, ninguém também deveria se dar por satisfeito em ter somente a educação profissional e técnica como um ideal em si mesma. A educação profissional e técnica, como um ideal em si mesma, nunca poderá alcançar o máximo que se espera dela por uma razão: mobilidade.
As pessoas se movem no espaço, entre ocupações e em situação econômica e, portanto, o treinamento profissional para o trabalho em uma dada situação será jogado fora pois as pessoas treinadas, quase certamente, morarão em outro local e/ou terão outra ocupação. A falha desse tipo de educação profissional é tão óbvia que contribuiu para a noção de que e educação, na realidade, a escolarização, é irrelevante para qualquer atividade importante da vida.
Dessa forma, mesmo em situação econômica adversa na qual o treinamento profissional seja a prioridade momentênea, a clareza do ideal educacional liberal e a tenacidade com a qual esse ideal é perseguido determinará o destino futuro da sociedade. A educação e o treinamento profissional devem ser considerados meios de fornecer a base econômica a partir da qual a educação liberal para todos possa ser possível.
3. Desperdício de Tempo e de Dinheiro
Outro empecilho ao ideal de educação liberal para todos é o enorme desperdício de tempo e de dinheiro com a organização atual do sistema educacional.
O esquema de 8 anos no ensino elementar, 4 anos no ensino médio e 4 anos na faculdade incorpora uma absurda duplicidade de conteúdos, muitos dos quais frívolos, e é uma imensa perda de tempo e dinheiro. Parece que a escola é algo pelo qual os jovens devem passar uma quantidade desproporcional de tempo pois não sabemos mais o que fazer com eles.
O enorme tempo gasto em conteúdos repetidos e frívolos impede que esse mesmo tempo possa ser utilizado para a educação liberal. Poderíamos eliminar a frivolidade e duplicidade de conteúdos e “ganhar” de 2 a 4 anos para a educação liberal.