Explicação prévia sobre este texto
Estou relendo o excelente livro de Mortimer J. Adler e Charles Van Doren, Como Ler Livros: O Guia Clássico para a Leitura Inteligente, um dos melhores livros a respeito do assunto, talvez o melhor já publicado até hoje:
Foi com esse livro que aprendi a ler corretamente há vários anos atrás. Aproveitando essa releitura, pretendo escrever alguns textos sobre os capítulos do livro, como forma de manter um breve resumo do meu próprio entendimento das lições de Adler e Van Doren, na esperança de motivar outras pessoas a aprenderem a ler melhor.
Este post é o primeiro desses textos e refere-se ao capítulo 1 do livro, “A Leitura: Arte e Atividade“. Procurei seguir as mesmas seções e divisões do texto original mas não me prendi rigidamente a essa regra: sempre que julguei necessário combinei uma ou mais seções, criei seções inexistentes, e alterei a ordem de algumas seções na tentativa de tornar meu resumo o mais conciso e claro possível. Observações importantes:
- Para não tornar o texto cansativo e enfadonho, citando várias e repetidas vezes o nome dos autores, já deixo explícito aqui que o texto abaixo é uma paráfrase do texto original dos autores (Mortimer J. Adler e Charles Van Doren), entremeado com minhas próprias conclusões; e
- Qualquer falha aqui, no entendimento e reprodução dos ensinamentos do livro, é, obviamente, de minha inteira responsabilidade, não dos autores originais.
Na medida do possível e do meu tempo, escreverei os textos referentes aos demais capítulos.
Capítulo 1. A Leitura: Arte e Atividade
Toda pessoa que deseja crescer intelectualmente deve aprender a maneira correta de ler um livro (ou qualquer outra fonte de informação) pois o acúmulo de informação não é pré-requisito tão importante ao entendimento, ao contrário: pode servir para confundir o leitor e atrapalhar seu entendimento.
Isso é especialmente verdade agora com a avalanche de informações (corretas e incorretas) que recebemos através do rádio, televisão, internet e redes sociais. Recebemos informações de todos os lados mas quase nunca paramos para pensar e transformar essa informação em entendimento, nos tornando assim meros repetidores da opinião alheia.
Note que existe uma distinção essencial entre informação e entendimento: essa distinção será explicada a seguir.
1.1. Objetivos da Leitura: Entretenimento, Informação e Entendimento
Grosso modo existem três objetivos para a leitura: entretenimento (diversão), informação e entendimento.
A leitura para entretenimento pode ser praticada por qualquer pessoa alfabetizada, todos têm capacidade de ler um texto para passar o tempo, para se divirtir. É a leitura menos exigente de todos e não exige quase nenhum esforço por parte do leitor e, por isso mesmo, não receberá maior tratamento e discussão.
O importante, para quem quer crescer intelectualmente, é a leitura para informação e, principalmente, a leitura para entendimento. Qual a diferença entre elas?
- Leitura para informação: é o tipo mais comum e ocorre quando lemos qualquer coisa (jornais, revistas, livros etc.) que nos seja imediatamente compreensível, inteligível. Nós compreendemos imediatamente tudo o que o autor tinha a dizer. Essa leitura aumenta nosso estoque de informação mas não nos faz progredir em entendimento: você e o autor estão no mesmo nível, têm o mesmo entendimento, e o autor não lhe ensinou nada de novo a ser entendido (apesar de poder ter lhe passado novas informações).
- Leitura para entendimento: é o tipo mais difícil e ocorre quando lemos qualquer coisa que não nos foi imediatamente compreensível, é algo que em princípio não compreendemos completamente. Essa leitura pode elevar nosso entendimento, o que está sendo lido é melhor e/ou maior do que o próprio leitor: existe uma desigualdade de entendimento, o autor é superior ao leitor em entendimento e está, de fato, nos comunicando algo que pode melhorar nosso entendimento. Aqui:
- O autor tenta transmitir os insights (entendimentos) que faltam ao leitor; e
- O leitor deve ser capaz de superar essa desigualdade, enforçando-se para compreender os insights e se aproximar do entendimento do autor.
A leitura para o entendimento é a leitura para o crescimento intelectual pois só podemos aprender com nossos superiores. O problema com muitos leitores é que, ao depararem-se com uma leitura que não compreendem, cometem um desses dois erros:
- Não se esforçam para entender e pedem ajuda para outras pessoas (amigos, professores, internet, outros livros) para explicar; e/ou
- Desistem da leitura (ou, pelo menos, dos trechos difíceis).
Se você comete esses erros não está lendo da maneira correta, não está lendo da maneira exigida pelo livro.
Só há uma solução e caminho para o entendimento de um livro: sem ajuda externa você tem que se esforçar e se dedicar ao máximo. Cabe a você, e somente a você, a tarefa de usar sua mente e se esforçar para sair de um estado de entendimento inferior para um estado de entendimento superior.
Enquanto você não fizer isso, não se esforçar ao máximo por conta própria, não se tornará um bom leitor. Para esse esforço não é qualquer “tipo” de leitura que é adequado: precisamos da leitura ativa.
1.2. Leitura ativa: a arte de ler
Não existe leitura passiva, somente leitura que pode ser menos ou mais ativa. Quanto mais ativa a leitura, quanto mais se dedicar e esforçar na leitura, mais o leitor compreenderá o que o autor quis, de fato, comunicar a quem o lê.
A leitura ativa é o processo de elevação da mente por conta própria, isto é, sem outra ajuda que não seja o que está escrito no livro que se lê.
Somente através da leitura ativa o leitor conseguirá compreender qualquer tipo de comunicação. Quando o leitor domina as técnicas da leitura ativa para diversos tipos de textos ele dominou a arte de ler, ele consegue compreender o pensamento do autor, o porquê do autor ter escrito o que escreveu, como escreveu e do modo que escreveu, ou seja: ele terá elevado seu entendimento, a mente passa a entender mais, passa a entender algo que ele não entendia anteriormente.
1.3. Leitura é Entendimento
É importante ter em mente que ler muito e ler bem são coisas diferentes.
Alguém pode ler muitos e muitos e muitos livros, mas de modo incorreto, e assim não ter aumentado seu entendimento. Ele é um livresco estúpido, um literato ignorante, um ignorante alfabetizado. Essa pessoa confunde estar bem informado (através de muita leitura) com ter entendido o que os autores tentaram ensinar.
Os livros podem nos transimitir muitas informações e ensinamentos mas isso só frutificará em nós se lermos para entender, não apenas para informar.
1.4. Professor Ausente e Leitura Ativa
Por fim, note que a leitura equivale, de certo modo, a aprender com um professor que está ausente: o autor.
Você não tem como pedir explicações diretamente ao autor, o máximo que você conseguirá é formular uma pergunta ao próprio livro. E, quando isso ocorre, é você mesmo que terá de responder a pergunta!
Você mesmo, por seus próprios esforços, dedicação e leitura ativa, deve pensar, analisar e responder sua dúvida com o único recurso disponível: o próprio livro. Você é o responsável por elevar seu entendimento.
Parabéns pelo texto. Muito bom!
Obrigado, mas o mérito é dos autores Mortimer J. Adler e Charles Van Doren. Eu apenas resumi o que entendi.
Excelentes considerações! Parabéns
Obrigado, mas o mérito é dos autores Mortimer J. Adler e Charles Van Doren. Eu apenas resumi o que entendi.